Lízia tinha cinco anos quando lhe disseram que a alma da gente era a sombra da gente na parede da sala, junto da radiola, no lado daquela estátua no Largo da Graça onde brincavam, ou deitada que nem sereia na areia da praia. Às vezes achatada, em outras comprida como um pau-de-sebo, sempre escura. Ficou pensando muitas noites. Observou dias e dias, calada.
Numa tarde em que subia a rua com a mãe, Dona Flóris, logo antes de passarem pelo muro infestado de lacerdinhas
http://www.grupos.com.br/blog/bonsai-rn/permalink/9198.html ,
a menina, sem querer, filosofou:
“Mãinha, se a sombra da gente é a nossa alma, então as coisas iam ter alma também, né?”
Dona Flóris tomou um susto com a inteligência da pequena, e orgulhosamente respondeu:
“Pois é, minha filha! A sombra não é a alma da gente, não. E nossas almas são muitas vezes claras.”
Lízia quis ter uma alma que fosse clara.
Não consigo acessar o link