ADORO! programas de investigação criminal, principalmente se os casos são verídicos. Devo ter herdado este gosto de meu pai, pois ainda éramos bem jovens quando ele deu de colecionar uma tal de “Enciclopédia do Crime” em fascículos. Cada um tratava de um figurão nessa modalidade de atividade humana, e me lembro vividamente do que foi dedicado a um francês chamado Landru, talvez porque a cara do sujeito era a que eu imaginava corresponder a de um assassino.
Sou, no entanto, muito mais fascinada por crime do que meu pai; há poucos anos, ele se recusou a acreditar que uma mulher nos Estados Unidos havia matado outra e lhe retirado o bebê de oito meses da barriga. Resmungou que era conversa, novela, mentira e outros substantivos rebaixadores, bateu o pé e não teve jeito de convencê-lo de que um ser humano fosse capaz de tamanha vileza.
Fiquei me perguntando se nos tempos de antanho não havia maldades tão requintadas ou histórias escabrosas como a do Canibal Alemão, que precisei ler e reler algumas vezes até me conformar que realmente acontecera. Porque escarniçar, traficar, escravizar, prostituir, torturar, esquartejar, estripar e explorar as gentes sempre fez parte dos costumes da humanidade, não surpreendendo a ninguém com alguma pouca experiência de vida.
Aí a gente pensa numa criatura que se elege vereador, deputado, prefeito ou ocupa cargo público qualquer cultivando o propósito maior de promover benefícios para si mesmo. Nessa posição, acumula vantagens e riquezas inatingíveis para a grande maioria dos outros cidadãos, inclusive aqueles que os colocaram lá por meio de seus votos prenhes de ideologia, racionalidade, esperança, idealismo, ingenuidade ou, quer saber? por algumas dúzias de blocos para ajudar na construção do cafofo ou uma cédula de 50 reais. Qual a intensidade do crime que essa criatura comete?
Com alguma frequência sou criticada quando ouso uns pitacos acerca do fazer político que vivemos no Brasil. Os mais simpáticos me chamam de maluca-beleza, já que não sei citar pensadores e a minha consciência (por alguns denominada de “paixão“) é o que me guia. E como já sou por demais calejada para ter medo de gente sabida, defeco majestosamente sobre as opiniões que em mim não calam e sigo com meus passos de pernas levemente em X, segundo a observação de uma instrutora de Pilates.
Pois bem: querem fazer uma reforma em nosso sistema previdenciário, se não o País estará de cuia na porta das igrejas daqui a cinco anos. Primeiro: “Porque a população está envelhecendo“. Mas não é sabido que nascem muito mais pessoas do que morrem? Assim, não haverá sempre mais gente para contribuir, sem falar dos milhões de aposentados que continuam ativos, como eu, e são descontados a fundo perdido? Segundo: se os bilhões recolhidos mensalmente ao INSS não fossem também desviados para outros fins que não aposentadorias e pensões, estaria o Instituto em tal penúria? Terceiro: se as dívidas magníficas de bancos e outras Entidades estivessem liquidadas, como estariam essas contas? Quarto: E no que se refere às benesses e aposentadorias de políticos e congêneres? Ainda sobraria ao restante do povo, especialmente o que atravessa a vida mancando, arcar com esse fardo?
Quinto: que tal Vossas Excelências servirem de exemplo, dando cabo de seus aviltantes privilégios? Teríamos, então, um mínimo de credibilidade, tornando-se mais fácil crer de que se trata realmente de uma tentativa de saneamento do que mais uma vigorosa chicotada no lombo de quem foi sempre tão explorado como o povo brasileiro.
Digo eu, que ADORO! crime.